\u00c9 isso mesmo que voc\u00ea leu!\u00a0Atrav\u00e9s de leis da f\u00edsica e da filosofia, pesquisador polon\u00eas Michael Heller mostra que Deus existe e ganha um dos mais cobi\u00e7ados pr\u00eamios. Ele montou a sua metodologia a partir do chamado \u201cDeus dos cientistas\u201d: o big bang, a grande explos\u00e3o de um \u00e1tomo primordial que teria originado tudo aquilo que comp\u00f5e o universo.<\/p>\n
Como um seminarista adolescente que se sente culpado quando sua mente se divide, por exemplo, entre o chamamento para o prazer da carne e a voca\u00e7\u00e3o para o prazer do esp\u00edrito, o polon\u00eas Michael Keller se amargurava quando tentava responder \u00e0 quest\u00e3o da origem do universo atrav\u00e9s de um ou de outro ramo de seu conhecimento \u2013 ou seja, sentia culpa.<\/p>\n
Ocorre, por\u00e9m, que Keller n\u00e3o \u00e9 um menino, mas sim um dos mais conceituados cientistas no campo da cosmologia e, igualmente, um dos mais renomados te\u00f3logos de seu pa\u00eds. Entre o pragmatismo cient\u00edfico e a devo\u00e7\u00e3o pela religi\u00e3o, ele decidiu fixar esses seus dois olhares sobre a quest\u00e3o da origem de todas as coisas: p\u00f4s a ci\u00eancia a servi\u00e7o de Deus e Deus a servi\u00e7o da ci\u00eancia. Desse no que desse, ele fez isso.<\/p>\n
O resultado intelectual \u00e9 que ele se tornou o pioneiro na formula\u00e7\u00e3o de uma nova teoria que come\u00e7a a ganhar corpo em toda a Europa: a \u201cTeologia da Ci\u00eancia\u201d. O resultado material \u00e9 que na semana passada Keller recebeu um dos maiores pr\u00eamios em dinheiro j\u00e1 dados em Nova York pela Funda\u00e7\u00e3o Templeton, institui\u00e7\u00e3o que re\u00fane pesquisadores de todo o mundo: US$ 1,6 milh\u00e3o.<\/p>\n
O que \u00e9 a \u201cTeologia da Ci\u00eancia\u201d?<\/p>\n
Em poucas palavras, ela se define assim: a ci\u00eancia encontrou Deus. E a isso Keller chegou, fazendo- se aqui uma compara\u00e7\u00e3o com a medicina, valendo-se do que se chama diagn\u00f3stico por exclus\u00e3o: quando uma doen\u00e7a n\u00e3o preenche os requisitos para as mais diversas enfermidades j\u00e1 conhecidas, n\u00e3o \u00e9 por isso que ela deixa de ser uma doen\u00e7a. De volta agora \u00e0 quest\u00e3o da forma\u00e7\u00e3o do universo, h\u00e1 perguntas que a ci\u00eancia n\u00e3o responde, mas o universo est\u00e1 aqui e n\u00f3s, nele. Nesse \u201cburaco negro\u201d entra Deus.<\/p>\n
Com repercuss\u00e3o no mundo inteiro, o seu estudo e sua coragem em dizer que Deus rege a ci\u00eancia naquilo que a ci\u00eancia ainda tateia abrem novos campos de pesquisa. \u201cPor que as leis na natureza s\u00e3o dessa forma? Keller incentivou esse tipo de discuss\u00e3o\u201d, disse a ISTO\u00c9 Eduardo Rodrigues da Cruz, f\u00edsico e professor de teologia da PUC de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n
Keller montou a sua metodologia a partir do chamado \u201cDeus dos cientistas\u201d: o big bang, a grande explos\u00e3o de um \u00e1tomo primordial que teria originado tudo aquilo que comp\u00f5e o universo. \u201cEm todo processo f\u00edsico h\u00e1 uma seq\u00fc\u00eancia de estados. Um estado precedente \u00e9 uma causa para outro estado que \u00e9 seu efeito. E h\u00e1 sempre uma lei f\u00edsica que descreva esse processo\u201d, diz ele. E, em seguida, fustiga de novo o pensamento: \u201cMas o que existia antes desse \u00e1tomo primordial?\u201d<\/p>\n
Essas quest\u00f5es, sem respostas pela f\u00edsica, encontram um ponto final na religi\u00e3o \u2013 ou seja, encontram Deus. Valendo-se tamb\u00e9m das ferramentas da f\u00edsica qu\u00e2ntica (que estuda, entre outros pontos, a forma\u00e7\u00e3o de cadeias de \u00e1tomos) e inspirando-se em quest\u00f5es levantadas no s\u00e9culo XVII pelo fil\u00f3sofo Gottfried Wilhelm Leibniz, o cosm\u00f3logo Keller mergulha na met\u00e1fora desse pensador: imagine, por exemplo, um livro de geometria perpetuamente reproduzido.<\/p>\n
Embora a ci\u00eancia possa explicar que uma c\u00f3pia do livro se originou de outra, ela n\u00e3o chega \u00e0 exist\u00eancia completa, \u00e0 raz\u00e3o de existir daquele livro ou \u00e0 raz\u00e3o de ele ter sido escrito. Keller \u201capazigua\u201d o fil\u00f3sofo: \u201cA ci\u00eancia nos d\u00e1 o conhecimento do mundo e a religi\u00e3o nos d\u00e1 o significado\u201d. Com o pr\u00eamio que recebeu, ele anunciou a cria\u00e7\u00e3o de um instituto de pesquisas. E j\u00e1 escolheu o nome: Centro Cop\u00e9rnico, em homenagem ao fil\u00f3sofo polon\u00eas que, sem abrir m\u00e3o da religi\u00e3o, provou que o Sol \u00e9 o centro do sistema solar.<\/p>\n
Michael Keller usou algumas ferramentas fundamentais para ganhar o t\u00e3o cobi\u00e7ado pr\u00eamio cient\u00edfico da Funda\u00e7\u00e3o Templeton. Tendo como base principal a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, ele mergulhou nos mist\u00e9rios das condi\u00e7\u00f5es c\u00f3smicas, como a aus\u00eancia de gravidade que interfere nas leis da f\u00edsica. Como explicar a massa negra que envolve o universo e faz nossos astronautas flutuarem? Como explicar a forma\u00e7\u00e3o de algo que est\u00e1 al\u00e9m da compreens\u00e3o do homem? Jogando com essas quest\u00f5es, que abrem lacunas na ci\u00eancia, Keller afirma a possibilidade de encontrarmos Deus nos conceitos da f\u00edsica qu\u00e2ntica, onde se estuda a rela\u00e7\u00e3o dos \u00e1tomos. Dependendo do p\u00f3lo de atra\u00e7\u00e3o, um determinado \u00e1tomo pode atrair outro e, assim, Deus e ci\u00eancia tamb\u00e9m se atraem. \u201cE, se a ci\u00eancia tem a capacidade de atrair algo, esse algo inexoravelmente existe\u201d, diz Keller.<\/p>\n